No momento, você está visualizando XIX FIA: painel discute impacto da tecnologia nas relações humanas

XIX FIA: painel discute impacto da tecnologia nas relações humanas

Não foi um palco, foi um espelho. O terceiro painel do XIX Fórum Internacional da Administração revelou algo que muitos preferem ignorar: em tempos de códigos e algoritmos, quem ainda olha para a alma humana? “Transformação humana em tempo de código: o futuro é relação” não foi apenas um título, mas um chamado para repensar a lógica que governa empresas e pessoas. O CRA-ES, presente na cobertura do evento, acompanhou de perto um debate que expôs a urgência de equilibrar tecnologia e humanidade.

O primeiro painelista, PhD em Finanças e Inovação Tecnológica Marcos Crivelaro, trouxe um diagnóstico inquietante: “Nos últimos dez anos, as organizações passaram por uma aceleração artificial. Velocidade virou sinônimo de eficiência”. Ele explicou que, nesse ritmo, o pensamento foi substituído por respostas rápidas, e executivos reagem a indicadores, não a sistemas. “O problema é que velocidade não é qualidade”, alertou. Essa lógica transforma trabalhadores em invisíveis, descartáveis. “O trabalho vira transação, não relação”, concluiu, deixando no ar uma pergunta que ninguém ousou responder: qual é o preço humano dessa pressa?

Professor universitário, Mauro Trigozo, também membro do Tribunal de Honra (OLA), trouxe uma reflexão ética: “O que vai acontecer se não controlarmos nossas atividades tecnológicas?”. Para ele, as invenções deveriam existir para melhorar a vida humana, mas estamos tão obcecados por resultados que esquecemos o essencial. “Nossa condição humana precisa de pausa. Nem tudo são números; é sobre como as pessoas se sentem ao realizar um trabalho”, disse. Mauro defendeu equilíbrio entre ética e eficiência, lembrando que estamos focados em resolver problemas sem olhar para as causas. E fez um alerta: “A inteligência artificial deve ampliar nossas capacidades, nunca substituir empatia e nossas definições morais. Sem limites, ela pode nos desumanizar”.

Raquel de Paiva, pós-doutora em Psicologia, encerrou com uma frase que virou mantra entre os presentes: “Não existe relação sem experiência. A técnica nunca é neutra; ela molda nossa existência”. Para ela, a transformação humana é um encontro de alma, e as tecnologias podem tanto aliviar quanto agravar sofrimentos. “O futuro será de quem souber cuidar da própria alma em tempos de códigos”, afirmou, apontando para um desafio que vai além da técnica: preservar a essência humana em meio à sobrecarga informacional e conexões rápidas.

Quando o painel terminou, ficou claro que a verdadeira inovação não está apenas nos algoritmos, mas na capacidade de manter relações autênticas. Em um mundo acelerado, pensar, pausar e cuidar são atos revolucionários. E o CRA-ES, presente na cobertura do XIX FIA, reforça que o futuro da Administração será escrito não apenas em códigos, mas em valores humanos que sustentam qualquer transformação.

Jornalista Márcia Menezes | Assessora de Comunicação