Brasília amanheceu vibrante com as vozes que ecoaram no XIX Fórum Internacional da Administração, evento que contou com a presença de uma comitiva do CRA-ES. Entre os painéis que marcaram o encontro, um trouxe uma provocação que mexe com a lógica da economia tradicional: “ADM Mulher; cuidar e produzir: a nova riqueza na economia do futuro”. A plateia, atenta, acompanhou uma conversa que não falava apenas de números, mas de vidas, de relações e de um ativo invisível que sustenta tudo o que conhecemos: o cuidado.
A painelista Nana Lima, Mãe, empreendedora social e cofundadora da Think Eva, abriu o debate com uma frase que fez o auditório silenciar: “O cuidado é o maior subsídio da economia”. Em seguida, trouxe um dado que parece impossível de ignorar: 10,8 trilhões de dólares é o valor estimado do trabalho de cuidado não remunerado realizado por mulheres no mundo. Esse trabalho, explicou, é imediato, não pode ser adiado, e é ele que mantém a vida funcionando dia após dia. “As mulheres fazem o que precisa ser feito, os homens fazem o que querem”, disse, apontando para uma desigualdade estrutural que atravessa gerações. Nana apresentou um conceito que ganhou força nos últimos anos: a feminização da pobreza. Quando as mulheres deixam o mercado formal para cuidar, elas não apenas perdem renda, mas também oportunidades, e isso impacta toda a sociedade. Para mudar esse cenário, defendeu a aplicação dos 4Rs da economia do cuidado: Reconhecer, Reduzir, Redistribuir e Remunerar, chamando Estado e setor privado para assumir essa responsabilidade coletiva.
A executiva de inovação com atuação internacional Vanessa Guitta trouxe outra camada à discussão: como mensurar o intangível dentro das organizações? Para ela, o cuidado é parte do capital estrutural, aquele que sustenta processos e garante inovação. “Estamos envelhecendo, e precisamos de soluções para atender um público que vai demandar cuidados cada vez mais complexos”, alertou. Vanessa lembrou que perder talentos custa mais caro do que investir em cuidado, e que as empresas precisam incluir essa previsão nos seus planejamentos financeiros. A economia do cuidado, disse, é um setor com potencial de crescimento exponencial, mas ainda subatendido.
A Presidente da Câmara de Mulheres Empreendedoras, Empresárias e Gestoras de Negócios da FECOMÉRCIO DF, Beatriz Guimarães, encerrou o painel com uma visão estratégica que virou mantra entre os presentes: “Cuidar não atrasa a economia. Sustenta a economia”. Para ela, ambientes que cuidam são mais inovadores, mais produtivos e mais sustentáveis. Posicionar o cuidado como vantagem competitiva é essencial para empresas que querem prosperar. Beatriz também destacou a importância da segurança psicológica como base da produtividade e lembrou que a economia do cuidado é, antes de tudo, prevenção: é sobre envelhecer com saúde, sobre garantir que o futuro seja possível.
Quando as luzes se apagaram e os aplausos ecoaram, ficou uma certeza no ar: o cuidado, antes visto como algo privado e invisível, é hoje um ativo econômico indispensável. Reconhecer isso não é apenas uma questão de justiça social, é uma estratégia para construir uma economia mais inclusiva, inovadora e sustentável. No fim, cuidar é produzir. E produzir com cuidado é, talvez, a maior riqueza da economia do futuro.
Jornalista Márcia Menezes | Assessora de Comunicação
